Revi “Os Respigadores e a Respigadora”, de Agnès Varda, uma referência para quem defende que é possível produzir cultura cinematográfica sem precisar de largos orçamentos. É que, sabemo-lo, o filme é feito – sobretudo - da deambulação visual de uma realizadora em busca daqueles que apanham os restos das colheitas e dos consumos. Viagem feita com uma pequena câmara digital. Isso. Sem grande guito por detrás. A “Cahiers du Cinéma” diria – talvez tenha dito - que é uma obra maior na sua simplicidade de meios. Sim, voltou a comover-me no retrato daqueles que, no campo ou nas cidades, recuperam, com dedicação por vezes obsessiva, o que os outros deitam fora – e nos instantes em que Agnès Varda filma o envelhecimento do seu próprio corpo, como quem respiga o destino de todos nós.