Domingo, 7 de Outubro de 2007
Mãe Portuguesa Responsável
Tenho-me cruzado com o anúncio um pouco por toda a cidade de Lisboa: Mãe Portuguesa Responsável Toma Conta de Crianças. Sim, isso. Mãe. Portuguesa. Responsável. Toma Conta de Crianças. A condição de mãe e a nacionalidade da mãe começam a contar no negócio do babysitting. Não é mãe alemã, moçambicana, ucraniana, chinesa ou palestiniana. É mãe portuguesa. Fiquei esclarecido em relação à disponibilidade da senhora - não se importa de trabalhar de dia ou de noite, em feriados ou ao fim-de-semana. Só ficou mesmo uma perguntinha a zumbir cá dentro, como uma mosca num snack de província: o que é isso de "mãe portuguesa responsável"?
Cozinhas preciosas
O meu problema com a ASAE não é o objectivo: em boa hora veio do céu uma autoridade para higienizar as cozinhas sujas do meu país. O meu problema com a ASAE é a forma. O protagonismo excessivo. O facto de aparecer demasiadas vezes nas notícias com a sua capa justiceira. Ponhamos as coisas desta forma: se a ASAE fosse um super-herói era o Super Higiénico. E o Super Higiénico pode ser uma figura um bocadinho irritante. Esta semana, a ASAE entrou no território das cantinas hospitalares e fez eco disso. Há quem considere o gesto pouco excessivo. Por mim, até podem fechar tudo. Só não fechem as cozinhas das nossas avós.
O mais português
Entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, o povo laranja escolheu Menezes. O que, se virmos bem, faz todo o sentido: durante a campanha, os comentadores fartaram-se de repetir que "o PSD é o partido mais português de Portugal". Menezes é mais português do que Mendes. É mais romântico, mais inconsequente, mais apaixonado, mais arrependido. Mas Menezes tornou-se ainda mais português depois da eleição. Ao decidir que, apesar de assumir a presidência do PSD, não vai deixar a Câmara de Gaia, encarnou ainda mais o coração da nacionalidade. É como se dissesse: eu bem posso ter esta aventura extra-conjugal que não vou abandonar o conforto do lar. Um gesto comodamente lusitano.
Camacho e Santos
A ideia acompanha-me há um tempo: José António Camacho tem ar de empregado de mesa de restaurante galego. Imagino-o de calças negras e camisa branca, a servir às mesas com o ar distante de quem acha que o cliente nem sempre tem razão. Sim, os analistas fizeram questão de destacar: no banco ou fora dele, exibe o ar valente que Fernando Santos nunca exibiu. Agora, mesmo numa situação difícl no Benfica, o espanhol mantém o semblante duro de quem tem de servir uma imperial às mesas e não lhe apetece. Ou seja: por fora, Camacho está igual. Santos, esse, mudou, com certeza, de cara. Aliás, com a crise de resultados do Benfica, Fernando Santos, o angustiado, já se deve ter rido pelo menos uma vez.
(crónicas que passaram no "Visita Guiada", programa das manhãs de fim-de-semana do Rádio Clube Português)